terça-feira, 11 de maio de 2010

Amigos, a seleção para a copa é um amasso no peito verde-amarelo. É um suspiro fatigado, infimamente crente. Explico. Só restará suspirar a esta seleção, porque a torcida é uma sentença inapelável, o brasileiro indiferente à sua seleção é um suicida, mas é um insaciável absoluto.
O problema da seleção não joga, não treina, não manda. Ele é apenas um esquecimento. Esta seleção é bom time. Mas o Brasil nunca foi um mero time. O grande devaneio em escalar esses homens está na palavra do dia, na menina das manchetes: a coerência. O Brasil, agora, é uma seleção pensada, refletida, coerente, estupidamente óbvia. O futebol só ama o Brasil porque este mesmo Brasil o desrespeita. A camisa canarinha, em campo, é um chute firme nas obviedades futebolísticas, é uma inspiração inacabável, é somente o Brasil. Uma seleção de porte ímpar, de um desdém genial às muralhas dos adversários. Construímos nossa própria muralha. Estamos trancafiados, e achamos essa prisão um paraíso eterno. Amamos esta condição animal. Assim como amamos tachar nossa seleção de “uma seleção de resultados”. Amigos desobedientes, o Brasil nunca se rebaixou a uma seleção de resultados. O Brasil não se importa com os resultados, e eis o grande charme de nossas mais belas camisas canarinhas. O resultado, para o Brasil, é como a métrica para o poeta. É uma ração rotineira e cômica, um motivo digno para os pangarés da coerência se deleitar. Porque o maníaco da coerência precisa do fato. O apaixonado, não. Todo brasileiro é, antes, um apaixonado. Num poema, o maníaco decifra os números de sílabas, versos, as suposições racionais. Num jogo, o maníaco não vê além das quatro linhas. As quatro linhas são apenas o palco. O verdadeiro espetáculo é invisível a tudo. É isto que nos revela um poema, e que nos revela uma seleção de futebol. O amante, o verdadeiro apaixonado, dá de ombros para as regras métricas: o que vale é a epifania. O que vale é o libertar-se, é a beleza incontestável. Bem como nossa seleção, bem como esta seleção. A seleção brasileira é uma dama trágica e espetacular. Se vence, se perde, são preocupações do nosso ilustre personagem. Porque, acima disso, ela deve despertar a paixão. A seleção de 82, com aqueles jogadores geniais; não foi campeã. Fique certo, meu leitor confuso, nunca precisou levar aquele caneco. Aquele Brasil era o do encanto, o do lirismo a cada drible, da ardência a cada passe perfeito, do orgasmo a cada gol. Será lembrado pela eternidade. Esta seleção para África, não duvido, levará o título. É para isto que torço. Além do mais, a imprensa óbvia segue o mesmo caminho de sempre, outras seleções provaram o contrário – tome 1994 e 2002. Pode ser uma seleção eficiente, e nestes ares de competência fingida, cairá bem. Que leve o título, mas saiba caçar as glórias. E que saudemos os campeões, apesar de meu desejo menino de também erguer os heróis.

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