domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Diamante Louco em cada um

http://www.youtube.com/watch?v=vyqgjCKm9nQ

Capaz de mostrar todo o emaranhado de beleza e loucura de cada um. Para essa, as palavras se apagam.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Se

Das obsessões que tenho, só uma me tira o sono: o apelo do “se”. Não são tardinhas leves que se vão, em imaginações esparsas, mas noites profundíssimas, dias a fio, horas espantadas de um desejo homérico e covarde pela sílaba mais homicida da língua. Sujeito me vê exausto no dia seguinte, pensa nas boas mulheres. Digo, então, que foi o “se”. Prefiro já não dizer mais nada.

O “se” é uma dama de faces dramáticas. Tantas são, e tão dilacerantes, que deve ser divino. Esconde-se a cada esquina e, de súbito, lança o olhar de moça malcriada, dissimulada por si mesma, e então, já não há mais o erro ou o acerto, apenas o desejo. Creio que compartilhar a dor do “se” é uma forma de misericórdia, é a constatação de minha mediocridade. Quantas foram as vezes que poderia não me ter visitado por simplesmente não existir, e mais, quantas vezes poderia tê-lo extinguido com impiedade, quando o dei à vida, embora fosse um infecundo; criamos a cada “se” um veneno abjeto, infalível, cravado irrevogavelmente; e, então, é aguardar a agonia. Não há dor física que se compare a dor do “se”. Perde-se um olhar a cada instante, uma vida a cada instante, mas nunca o “se” há de se perder, em instante algum. Porque disso somos feitos. Nem gentilezas ou mentiras, amor ou ódio, riqueza ou miséria. Entregue em nossos rostos frágeis, somos feitos de “Se”.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Última Flor da Primavera

A juventude acabou. Ela não está disfarçada ou descuidada; ela acabou, absolutamente. Quem dera dizer que as aflições juvenis tivessem se misturado à nobre sabedoria da velhice, vagando por entre as idéias contraditórias desta florida idade, mas não, muito tristemente não, os jovens acabaram porque desistiram de existir. Quando não há mais o desejo, não há mais nada. Aceitaria de muito bom humor se um sujeito jovem me viesse contrariar, dizendo que, entre outras coisas, a juventude é a esperança, e disso não podemos desistir. Não me dou com o ceticismo, que acho vago e atraente; mas há uma questão crucial que nos joga à beira do abismo: para nós, jovens, o que é do mais profundo desejo? O erro do jovem estaria, nesta situação, em lançar os olhos à palavra “desejo”. Estamos cegos. O mal da superficialidade nos tirou a visão. E, numa filosofia fajuta, porém eficiente, conclui-se que não conseguimos mais enxergar o que viria a ser “profundo”.
Não há de se dar culpa à mídia, nem há de se dar culpa às gerações passadas, que também eram imperfeitas, porque seria o lógico, o pragmático. Já não há espaço para o que não seja óbvio, leviano, posto que quando jogados ao labirinto que realmente somos, não encontraríamos, nunca, uma saída; porque a busca por se desvendar, que é o que deve haver de mais digno num ser humano, hoje é uma pilhéria. Os triunfos de ontem são os fracassos de hoje. Estou sendo radical? Radicais são os jovens, que não acreditam mais no amor. Veja só, o pilar indestrutível de nossos desejos, motivo de vida e morte, cantado há séculos, mesmo que escorrido no prolixo, unindo os corações mais dilacerados: o Amor, que hoje nos parece um devaneio, uma piada. Orgulhamos-nos de cuspir nos valores que nós mesmos construímos, de trajarmos num manto de solidão, de recusarmos o abraço, – mesmo que de súbito – de construir nossa existência com a mais prática e repetida fórmula; somos excessivamente ponderados, enfadonhamente repetitivos, nossos atos perderam a dramaticidade, nossos atos já não são heróicos e utópicos, já não há causa alguma, mesmo que perdida, recuamos à paixão, simples e errante, pelo prazer de sonharmos e conhecermos o novo, e, obedecendo ao Tratado Geral dos Chatos, não nos entregamos nem a nós mesmos; as nossas senhoritas – veja só que arcaico, com treze anos já se é uma senhora – não largam os senhores por um descompromissado soneto, que já não emociona, e nossa lágrima escorre obrigada, porque nossos amigos já não choram; resta somente chorar a alma, avulsa dilacerada, pois ela não saberemos domesticar jamais.
Esta minha geração se dará, um dia, ao prazer de conhecer o tempo. Que não seja fatal, mas, sobretudo, singelo, para que possam acenar com a simplicidade e a elegância juvenis que a vida sabe premiar.