segunda-feira, 26 de abril de 2010

Talvez o grande desconcerto dos seres que escrevem, ou mesmo os que apenas vivem, seja tentar imprimir a intensidade de um momento sob a forma mais inédita e mais perfeita. Conhecer Brasília me fez ver, de uma voluptuosidade guardada neste peito escriba, que meus versos, ou os versos de quem quer que seja, rastejam para um sacrifício, para um fracasso total. Eis onde se encontram. Não julgo injusto ou indigno, pois a Rainha do Planalto, muito digna e muito dama de si mesma, saberá reconhecer, pois sim, meus vis esforços.
Brasília é um elegante sopapo na cara do sujeito brasileiro. O resto é enfeite. Prova-se, nela, seu desprezo monumental pelos pormenores austeros da política, seu desenrolar absurdo por formas imensuráveis, porque Brasília é, antes de uma cidade, um mundo. Nada nela decai sobre a infeliz objetividade dos números enfadonhos, nada se compara. Penso que Brasília e Don Corleone são as únicas instituições capazes de nos fazer ver como somos pequenos. Elevou-se da descrença do planalto, de uma bravura sanguinária de Juscelino desmedido, de um compromisso descompassado de um Niemeyer libertário, de uns candangos personagens brasileiros ímpares, e se deu à luz. Brasília é um caso único de ter nascido grande e, espantosamente, estar sendo grande. Mas é humilde e sabe voar para encontrar a dignidade. Sabe, por entre suas curvas inconcebíveis, mesmo a olhos venenosos e infantis, saudar os homens de sua pátria. Por isso, não existe o brasiliense. Todos, em Brasília, estão de passagem, inclusive os presidentes, veja só. Talvez seja por este ente passageiro de Brasília que o que se firmou em nossa terra parece ser de uma falta maior. Infla-se o sentimento único do novo, mas sangra o sentimento de uma saudade sem igual, algo incompleto que a terra promete recordar. Todos, em Brasília, estão a um passo mais largo de sua incompletude. Jamais uma incompletude frustrante, ou negativa. A incompletude dos saudosos de Brasília é um ardor para irmos além. É um céu, como o quase infinito do planalto, que vai se expandindo. O nosso horizonte por entre a história do país. Um horizonte agora imensurável ante a proporção da capital.
Beijo a fronte desta madame dramática, no respeito menino do intocável, mas desejo, como que dilacerado por uma paixão inédita, levar-me vagabundamente por estas curvas irreais. Curvas sem igual de uma cinquentona encantadora.


Quinta, 22 de Abril, no jardim elevado do Congresso Nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário