segunda-feira, 5 de abril de 2010

Breve Resenha sobre Pink Floyd: The Wall (1)

Com carinho, ilustre Maga:

Ao passo calmo e errante, de uma imprecisão que de tão silenciosa é mais que um grito infinito, o muro vai se erguendo assim sem ordens, sem fronteiras já antes ditadas, senão pelos limites mais humanos e mais desconhecidos dessa humanidade enfim revelada, desses erros assim escondidos em cada olhar que nos nega, medonhos como a epifania mais desesperadora, mas natural como o desespero a cada amanhecer. É, enfim, o muro dos mais absurdos sonhos e da inexistência mais indiferente, mas é um muro: límpido, avassalador, ditador. Não somente cresce como cerca, e cerca como a loucura crescente, surgida senão de uma dúvida, já não se sabe se somos mais um tijolo no muro ou se o somos por completo. Enfim, muro cada vez menor aos olhos dos libertados, mas gigantesco ao frágil e desconexo coração humano, tão menino, ainda que tão ousado. Eis o homem jogado ao seu próprio muro, incerto quanto a sua própria lucidez e sua coragem, incerto sobre sua existência, que de tão efêmera é quase um sopro despretensioso, mas é, sobretudo, incômodo. É senão um vento fortíssimo que vai empurrando o muro, vai fechando-o como que uma ferida dolorosa, e não há espaço para ninguém a não ser a nós mesmos. Estamos sós na escuridão gritante de nossos muros. Imploramos essa solidão, sonhamos com ela, mas quando em face dela, resta-nos procurar o irmão mais próximo, mas ele é ausente: está do outro lado do muro. O tempo é curto e o espaço é mínimo, não cabemos mais do lado de fora: é quando dentro de nós há uma imensidão, e é nela que, atônitos e instintivos, vamos nos jogar,
The Wall é a manifestação musical de todo o emaranhado de pensamentos, sensações e desconcertos que há em nós. Um choque. Um choque de verdades que nos esbofeteiam a cada segundo e nos fazem estar de pé, ainda que tantas vezes estejamos cansados o suficiente para não seguir em frente.

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